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Sebrae divulga pesquisa sobre empreendedores da periferia de Maceió

Estudo realizado pelo Instituto Locomotiva revela que esses pequenos negócios movimentam mais de R$ 2,5 bilhões por ano
Por Guilherme Lamenha - Partners Comunicação
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Mais de 245 mil alagoanos moram em favelas, o que equivaleria à segunda maior população em número de habitantes, entre os municípios do estado, perdendo apenas para a capital, Maceió. A informação consta no estudo Empreendedorismo nas Favelas de Maceió, divulgado pelo Sebrae Alagoas, durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (11). O encontro, que também reuniu líderes comunitários, empresários, representantes de entidades e órgãos governamentais, aconteceu na sede do Instituto Guilherme Brandão, no Vale do Reginaldo, que através de parcerias gera oportunidades para impactar positivamente a vida das pessoas.

“O estudo foi conduzido pelo Instituto Locomotiva, contratado pelo Sebrae para fazer esse raio x da periferia na Região Metropolitana de Maceió. Os dados coletados são importantes para a instituição por que nos aproximam ainda mais do empreendedor que vive nas grotas ou favelas. Entendendo a realidade de quem já empreende ou deseja empreender na periferia, podemos trazer soluções customizadas que vão estimular o desenvolvimento desses pequenos negócios”, afirma Vinicius Lages, diretor-superintendente do Sebrae Alagoas.

Ele lembra que a missão da instituição é atuar em todo o estado de Alagoas, por meio de suas agências em Maceió, Arapiraca, Penedo e Delmiro Gouveia. “Pesquisas como está que sendo divulgada hoje nos ajudam a chegar ainda mais longe, atendendo a todos que precisam dos nossos serviços, consultorias e capacitações. Este ano já atendemos mais de 65 mil CNPJs e mais 25 mil atendimentos serão realizados até o final do ano”, completa.

Para o diretor-técnico do Sebrae Alagoas, Keylle Lima, que também estava presente na coletiva, a periferia tem um enorme potencial econômico e a instituição precisa estar atenta a esses movimentos. “Precisamos ajudar a aprimorar o que já existe e apoiar as iniciativas que ainda podem surgir em todos os segmentos, seja o da alimentação, salão de beleza, barbearia, lojas de produtos ou qualquer outro ramo, não existe limites para a criatividade dos empreendedores”, diz.

Keylle Lima também faz questão de frisar que, segundo a pesquisa, os empreendedores de menor renda movimentam, só em Alagoas, mais de R$ 2,5 bilhões por ano. “Esse dado evidencia uma forte conexão dos empreendedores com o território, já que 98% deles atuam profissionalmente nas favelas onde vivem. São números expressivos que não podem ficar de fora do planejamento das políticas públicas, por exemplo e também das instituições financeiras que podem viabilizar o sonho de empreender desses moradores”, avalia.

A divulgação do estudo acontece na segunda edição do Café Sebrae, projeto que periodicamente reúne comunicadores alagoanos e técnicos da instituição para troca de informações e networking. “A nossa proposta é trazer, a cada encontro, novidades do Sebrae para os jornalistas e para a população como um todo. No primeiro semestre, lançamos o Prêmio Sebrae de Jornalismo 2023, durante o café, e hoje abordamos a importância do empreendedorismo nas periferias e, além dos dados da pesquisa, apresentamos vários casos de sucesso envolvidos com as comunidades”, informa a analista Myrna Pessoa, gestora de Assessoria de Imprensa do Sebrae.

É o caso do artista visual Lucas Inxame, de 28 anos, convidado para grafitar sobre o tema durante o evento. “Meu primeiro contato com o grafite foi em 2015, quando entrei no curso de Arquitetura. Desde então produzo murais e painéis, além de ministrar oficinas em diversas instituições”, conta. Em 2021, Lucas concluiu seu curso com a monografia “A cidade cinza e a resistência das cores: a história do grafite na cidade de Maceió”.

A mesma pegada de valorização ao empreendedorismo das periferias está presente no trabalho do cantor Elias Pedro ou Nego Pedru, seu nome artístico. “Sou músico autoral e canto desde criança, mas comecei profissionalmente no rap em 2017, quando descobri os festivais e coletivos desse gênero. Não me enxergava como empreendedor, mas a partir desse fórum vou procurar entender melhor como a minha arte se relaciona com a economia criativa”, afirma.

As fornecedoras responsáveis pelo buffet do evento, Rosi Salgados e a confeiteira Ana Dayse também têm histórias para contar. “Comecei aos 12 anos, influenciada pelo meu avô que vendia sanduíches e passaportes. Hoje tenho o Espaço Ana Dayse, onde crio bolos e doces na minha própria cozinha industrial, que vem conquistando o paladar de muitos clientes”, relata.

Para a analista do Sebrae Alagoas, Ana Madalena Sandes, gestora do segmento de Negócios de Impacto Social e Ambiental da instituição e responsável pela pesquisa, diz que apenas um quinto desses empresários que atuam na periferia são formalizados e desconhecem os benefícios e acessos possíveis para o setor. “A maioria não se enxerga como empreendedor, não tem consciência do poder transformador dos seus próprios sonhos. Por isso nosso projeto visa fortalecer esses pequenos negócios, a partir do conhecimento das suas necessidades e, principalmente, do que eles querem e esperam de instituições como o Sebrae. A gente começa com esse diagnósticos, mas vamos também formar agentes das próprias comunidades que podem trabalhar nos seus territórios e também, futuramente, atuar como consultores do Sebrae”, informa a analista.

Os empreendedores que atuam nas favelas, segundo o resultado da pesquisa, enxergam as precariedades que cercam seus territórios, mas sabem que têm o poder de ressignificar esses locais com suas narrativas. O mesmo espaço de onde tiram seu sustento é palco “do lazer, dos afetos e de suas relações pessoais”. São trajetórias de lutas que se confundem com a busca pela realização dos próprios sonhos.

É o caso de Rafael Nascimento, empresário da Humanize, uma agência de Recursos Humanos que nasceu no Vergel do Lago e hoje atua em todo o estado. Ele fez a abertura do evento e contou um pouco sobre a sua trajetória. “Eu sei que venci quando percebo que continuo apaixonado pela minha profissão, cinco anos depois que resolvi empreender. Nesse tempo, entrevistei, contratei, treinei, demiti, fiz pesquisas internas, criei planos de desenvolvimento, integrei. Esse percurso tem sido uma grande escola, e tenho me esforçado para ser um bom aluno. O empreendedor da periferia tem condições de atuar onde ele quiser, basta acreditar e buscar fazer as escolhas certas”, afirma Rafael.