Um projeto que visa promover o uso sustentável das águas do canal do Sertão, com foco na inclusão e na liderança de mulheres da região, foi reconhecido pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (United Nations Convention to Combat Desertification – UNCCD). Chamado Ser-tão Mulher, o projeto, liderado pelo Instituto Terra Viva com apoio do Sebrae Alagoas, foi destaque no documento “Women-Led Solutions for Drought Resilience” (Soluções lideradas por mulheres para resiliência à seca) que reuniu 35 práticas promissoras da África, Ásia, América Latina e Caribe.
Os projetos foram escolhidos por um processo rigoroso, com base em um chamado global lançado pela UNCCD em 2024 para identificar iniciativas femininas que promovam resiliência à seca. Dos 35 projetos selecionados, apenas três são do Brasil, sendo o Ser-tão Mulher o único do Nordeste. O documento foi produzido pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (Food and Agriculture Organization – FAO).
O documento destaca o projeto Ser-tão Mulher, implementado no semiárido alagoano, onde dificuldades como a falta de acesso adequado à água persistem, apesar dos investimentos no canal, que capta água do Rio São Francisco e leva a municípios com baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).
O Ser-tão Mulher busca promover o uso sustentável das águas do canal, com foco na inclusão e liderança de mulheres que enfrentam opressões sexistas e exclusão social. Inovações como o uso de energia solar e a certificação orgânica de produtos fazem parte das iniciativas do projeto. Além disso, mulheres organizadas em grupos lideram sistemas agroflorestais que ajudam a combater a desertificação local.
As mulheres participantes do projeto desempenham papéis fundamentais, tanto nas tarefas domésticas quanto na geração de renda, por meio de atividades como a criação de animais. Devido às secas e à escassez de trabalho na entressafra, as mulheres acabam assumindo a gestão das residências, demonstrando autonomia e capacidades empreendedoras, o que contribui para o desenvolvimento da confiança e da independência. O projeto tem proporcionado treinamento e suporte, permitindo que essas mulheres se envolvam mais ativamente na tomada de decisões e na liderança de negócios agrícolas.
Apoio do Sebrae
O Sebrae Alagoas desempenhou um papel fundamental no financiamento e acompanhamento do projeto Ser-tão Mulher, liderado pelo Instituto Terraviva, que envolveu mulheres líderes da agricultura familiar no Sertão de Alagoas. Vinicius Lages, diretor-superintendente da instituição, ressaltou o desafio e a importância dessa iniciativa. “Foi um projeto desafiador e inspirador, liderado pelo Ricardo Ramalho, um profissional que é referência no desenvolvimento rural e na agricultura familiar no estado. Ver esse reconhecimento é muito gratificante, especialmente porque se trata de metodologias desenvolvidas e implementadas aqui, que agora ganham visibilidade nacional e potencial para alavancar novas frentes de trabalho”, afirmou.
Lages também destacou que o Ser-tão Mulher não apenas promoveu resultados significativos em produtividade e acesso a mercados, mas também enfrentou de forma direta os desafios da liderança feminina no meio rural. “No Nordeste brasileiro, ser líder rural, chefe de família ou empreendedora agrega desafios adicionais às mulheres. O projeto trouxe organização produtiva e inclusão, preparando essas mulheres para desafios futuros, como a adaptação climática e a transição digital no campo. É uma inspiração para seguirmos apostando em iniciativas transformadoras como essa”, disse o diretor-superintendente.
O engenheiro agrônomo e diretor do Instituto Terraviva, Ricardo Ramalho, explicou que o apoio do Sebrae foi crucial para a continuidade do projeto. “Tudo começou com um aporte de recursos do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica, mas só foi possível concluir as atividades graças à parceria com o Sebrae, o que garantiu resultados mais concretos, mais significativos da evolução das mulheres, que margeiam o canal do Sertão nos municípios de Delmiro Gouveia, Água Branca, Pariconha e Inhapi”, destacou.
Ele lembrou ainda que o protagonismo feminino é central na iniciativa, já que muitas mulheres enfrentam desafios históricos de dominação machista e migração masculina para outras regiões, muitas vezes temporária e sazonal. “Ver esse reconhecimento é motivo de grande satisfação, após um processo criterioso que durou cerca de um ano”, finalizou Ricardo Ramalho.