Uma análise da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) sobre o perfil dos empreendedores brasileiros por cor/raça mostrou que, em Alagoas, o empreendedorismo negro refletiu tendências nacionais, mas com particularidades locais que merecem destaque.
Em geral, a população preta ou parda no estado apresenta uma forte presença em setores como o comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios, serviços de alimentação e bebidas, e atividades de tratamento de beleza.
Segundo a economista e analista do Sebrae Alagoas, Geanne Silva, os dados também apontam uma maior presença de brancos em atividades como serviços de engenharia e atividades jurídicas, o que pode refletir um maior acesso à educação formal e recursos financeiros.
“A pesquisa sugere uma realidade multifacetada, onde as diferenças de acesso a recursos, educação e oportunidades refletem-se diretamente nas aspirações e atividades empreendedoras. A maior importância dada aos sonhos imateriais pela população preta ou parda pode ser vista como uma resposta às barreiras históricas enfrentadas, enquanto a diversificação em setores emergentes indica uma adaptação às novas demandas do mercado.”, analisou Geanne.
Os dados mostram, por exemplo, que o sonho de comprar uma casa própria é uma aspiração importante para ambos os grupos, mas é ligeiramente mais alta entre pessoas pretas ou pardas, refletindo o desejo de estabilidade e segurança habitacional. “O que essa informação pode estar nos dizendo é que essa maior inclinação para comprar uma casa própria entre pretos/pardos pode ser vista como uma resposta à insegurança habitacional, uma questão frequentemente enfrentada por essas parcelas da população”, destacou a economista.
As análises expõem que, de uma forma geral, a população preta ou parda apresenta mais aspirações por mudanças de vida do que entre os brancos. Este fenômeno revela que, para esta parcela da população, a realização de sonhos imateriais, como “ter o próprio negócio”, “conquistar um diploma de curso superior”, “construir uma carreira em uma empresa ou no serviço público”, e “casar ou constituir uma nova família”, tem uma importância preponderante. Paralelamente, objetivos materiais, tais como a aquisição da casa própria, automóvel, plano de saúde ou dispositivos eletrônicos (computador, tablet, smartphone), também despontam como prioridades marcantes.
Para além das conquistas dos sonhos, o empreendedorismo também se apresenta como soluções diferentes para os grupos. Enquanto a maior parte da população branca empreende devido à escassez de empregos, as pessoas pretas ou pardas empreendem com a motivação de fazer diferença no mundo, construir patrimônio e continuar uma tradição familiar.
Pesquisa GEM
A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) sobre o perfil dos empreendedores brasileiros por cor/raça, a partir dos dados da amostra de 2000 indivíduos de 18 a 64 anos distribuídos geograficamente pelo Brasil em 2023.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tem apoiado o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) no Brasil desde o ano 2000. Até 2021, o Sebrae estabeleceu parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), e a partir de 2022, com a Associação Nacional de Estudos de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país possui cinco categorias de classificação para cor ou raça: branca, preta, parda, amarela e indígena. Para fins desta pesquisa, as cores/raças preta e parda são agrupadas em uma única categoria. As análises foram realizadas considerando duas dessas categorias, que são as mais frequentes na pesquisa: branca e preta ou parda.