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‘Las Negras’: evento celebra Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribeña no Sebrae Alagoas

Evento trouxe discussão sobre o papel do afroempreendedorismo e a representatividade da data Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenã
Por João Paulo Macena - Savannah Comunicação
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O Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribeña, celebrado no dia segunda-feira (25), na sede do Sebrae Alagoas, em Maceió, foi marcado por diversas atividades no evento ‘Las Negras’. A programação, formada por palestras, apresentações e roda de conversa, trouxe momentos para debater sobre o empreendedorismo e inovação para as afroempreendedoras alagoanas.

A programação teve início com a idealizadora e presidente do Coletivo Nosso Ilê e empresária da Duafe Acessórios, Thaisa Torres, que fez uma apresentação sobre o coletivo criado em dezembro de 2021. Segundo a empresária, o coletivo tem a missão de dar visibilidade aos afroempreendedores locais a partir de atividades como capacitações, mentorias, rodas de conversa, palestras, oficinas, feiras afroempreendedoras. Atualmente, o coletivo conta com a participação de mais de 20 afronegócios em Alagoas.

Para Thaisa Torres, a iniciativa surgiu a partir do incentivo do Sebrae após a realização do projeto Empreende Afro 2021 que capacitou diversas empresas. Ela ressaltou que o coletivo também foi estruturado para valorizar datas como o Dia da Mulher Negra e a própria identidade negra.

“O nosso tema é ‘da ancestralidade ao afrofuturismo’ para trazer esse resgate da nossa identidade. A cada dia mais as pessoas se identificam como pessoa negra e como mulher negra, principalmente, que equivale a 28% da população brasileira. Hoje, nós vemos mais isso, essa identificação. Que as pessoas negras possam ocupar todos os espaços que quiserem, porque o futuro é ancestral. Nossa história tem sido contada cada vez mais e isso nos fortalece”, afirma.

Na sequência, Karine Oliveira ministrou a palestra ‘Empreendedorismo para Afroempreendedoras’. Karine é CEO da Wakanda Educação Empreendedora, que tem a missão de traduzir conteúdos do empreendedorismo tradicional para a linguagem informal e regional através de cursos de formação, permitindo o acesso e fortalecimento de negócios periféricos e por necessidade.

Nascida e criada na periferia de Salvador, ela não conhecia o termo empreendedorismo, mas já via sua mãe empreender por necessidade, quando iniciou um negócio com apenas R$ 50, em 2002, vendendo milho cozido, cachorro-quente e salada de frutas em uma lanchonete. Em 2018 foi a vez de Karine criar seu próprio negócio, ouvindo e prestando atenção nas outras pessoas, e hoje ensina outras pessoas da periferia o percurso do empreendedorismo. Com a experiência, ela destaca que é preciso ter escuta ativa e sensível para inovar e se manter no mercado.

“Comecei a perceber que os jovens e mulheres periféricas que iam aos eventos de empreendedorismo não entendiam alguns termos usados. O ‘startupês’, a linguagem técnica ou as vezes em inglês afastavam elas desses lugares e o que fiz foi começar a traduzir essa linguagem”, pontua.

Em sua trajetória de sucesso ao empreender por necessidade, Karine já saiu na capa da revista Forbes e transformou a vida de diversos alunos. Foi justamente ao perceber que transformava a vida de pessoas que Karine teve forças de multiplicar sua metodologia e mudar a vida de muitas mulheres negras.

“Abri a primeira turma em um shopping e mais de 50 mulheres se matricularam. No segundo dia, foram apenas 22. Mas eu não desanimei. No terceiro e último dia, participaram apenas 12 mulheres, as únicas que concluíram o curso. Elas disseram que eu estava no caminho certo e eu segui. Até hoje, essas 12 estão comigo e me fortalecem”, lembra.

Roda de conversa

Já na Roda de Conversa, Ivanilda Luz, empresária do Odara Restaurante e Vivi Rodrigues, da empresa ‘Magrela Vivi’, que desenvolve brinquedos e livros sensoriais, compartilharam suas experiências com Karine Oliveira. Na roda, um dos principais temas foi o que é afroempreender.

“Ser afroempreendedora é aprender a partilhar. Conheci poucas mulheres negras que criaram negócios apenas para ficar rica. Elas criam seus negócios para repartir o que ganham. É redistribuir a renda, é dinheiro andando em mais mãos e, principalmente, empreender com afeto”, disse Karine.

Ivanilda Luz também explicou o termo “afroempreender” como ser coletivo. “É como se tudo refletisse. O que acontece em você acaba refletindo no outro. É uma corrente que só se movimenta se conseguirmos movimentar outra pessoa, principalmente outras mulheres. Nós precisamos desse movimento. Quando vejo que outras afroempreendedoras estão crescendo, fico fortalecida”, afirma.

Para Vivi Rodrigues, afroempreender é resistência. “Para mim, é um exercício contínuo de resistência. Porque estamos sempre ‘nadando contra a maré’. Raramente a corrente está a nosso favor. Somos resistentes, mas queremos parar de usar o verbo resistir para utilizar o verbo existir. Quero chegar aqui e dizer que o afroempreendedorismo significa existir”, conclui.

A roda de conversa foi mediada pela analista da Unidade de Soluções e Inovação do Sebrae Alagoas e gestora do projeto Empreende AfroAlagoas, Ana Madalena Sandes, que destacou a importância de difundir essas temáticas no estado.

“Estamos sempre com essas pautas de discutir os afronegócios, o afroempreendedorismo e queremos fortalecê-las cada vez mais, com as pessoas pretas e pardas porque somos maioria no Brasil. Nós devemos estar aqui, ocupar esse espaço e discutir sobre afroempreendedorismo para que possamos ser mais inovadores e competitivos no mercado. Esse é um dos objetivos do Sebrae ao trabalhar com essa temática e com inclusão e diversidade”, finaliza.

Festival Alagadiças

A programação do ‘Las Negras’ aconteceu em consonância com as últimas atividades do Festival Alagadiças, realizado entre os dias 22 e 25, pela Dagô Produções e Batuque Produções com o patrocínio do Sebrae Alagoas, Governo de Alagoas e parceiros, como a Prefeitura de Maceió.

O último dia do evento contou com atrações culturais, como a cantora Mel Nascimento e o grupo de bumba meu boi ‘Bumba Minha Vaca’, formado por mulheres e pessoas LGBTQIA+. O festival também trouxe a feira de empresas que fazem parte do Coletivo Nosso Ilê, entre elas o Ateliê Lago de Cores, Ateliê Magrela Vivi, Kitutu Doceria, Divinas Pretas e Restaurante Odara.

Sobre o Dia da Mulher Negra Latino Americana Caribenha

Símbolo de resistência das mulheres negras, a data foi instituída em 1992 no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana, quando também ganhou o reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU).

No Brasil, a data também homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo de luta e resistência do povo negro. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século XVIII. Após a morte do marido, José Piolho, ela assumiu o comando do Quilombo Quariterê, localizado onde hoje fica o estado do Mato Grosso, e o liderou por décadas. Tereza ficou conhecida por sua visão vanguardista e estratégica.

O ‘Las Negras: Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha’ foi promovido pelo Sebrae Alagoas, por meio do projeto Empreende AfroAlagoas e do Sebrae Delas, em parceria com Coletivo Nosso Ilê.

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