Os resultados do cultivo de eucalipto como alternativa ao plantio da cana de açúcar em Alagoas, especialmente na região da Zona da Mata, foram divulgados nesta terça-feira (19) durante um workshop promovido pelo Sebrae Alagoas e Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA). A atividade se apresenta ser promissora no estado, que até o ano passado contava com área total plantada de 18.700 hectares.
O workshop teve como tema “A viabilidade da Eucaliptocultura em Alagoas” e reuniu pesquisadores, representantes de empresas ligadas a engenharia florestal, empreendedores e pecuaristas.
O evento trouxe dados que mostram que o plantio do eucalipto avança pelo interior e já começa a se fixar como atividade econômica, com escoamento da produção para grandes indústrias instaladas em estados vizinhos. A Perdigão, a cervejaria Ambev e a Ingridion, fábrica americana de alimentos, são algumas dessas empresas que usam a madeira do eucalipto alagoano para aquecer as caldeiras de seus parques industriais.
“O resumo do corte em Alagoas é de um total de 175 hectares por mês, totalizando aproximadamente 60 mil metros estéreos. Considerando que cada caminhão comporta 30 metros estéreos, temos a previsão de 2 mil caminhões de madeira por mês. Destes, menos de 10% é de madeira consumida pelo mercado local”, revela Antônio Marcos Resende, engenheiro florestal e representante da Flora Consultoria, que falou no evento sobre os resultados do programa silvipastoril em Alagoas.
Metros estéreo é o termo usado para definir uma pilha de madeira com 1 metro de comprimento, 1 metro de largura e 1 metro de altura, com espaços vazios entre as peças – ou seja, elas não se encaixam precisamente. É o caso do tronco do eucalipto quando transportado.
Mas nem toda madeira do eucalipto plantado por aqui vira combustível para a indústria de bebidas e alimentos. Uma parcela dela vai parar em serrarias, onde é tratada e convertida em madeira serrada para atender ao mercado pernambucano de estofados e paletes, ou enviada a Bahia para a fabricação de celulose.
É o caso do eucalipto cultivado pela empresa Caetex, que tem 70% da área plantada em Alagoas, num total de 12.300 hectares. Dessa imensidão de árvores, 100 hectares de floresta são destinados à fábrica de celulose em Camaçari (BA), região metropolitana de Salvador.
Em termos financeiros, o valor atual da madeira em pé (sem a colheita) é de R$ 40 a R$ 45 por metro estéreo, de acordo com a topografia e o acesso. E a produtividade média estimada para Alagoas, considerando plantios com bons tratos culturais, é de Incremento Médio Anual de 52 m³ por hectare por ano, que corresponde a 78 metros estéreo por hectare por ano. Após cinco anos, a produtividade atinge 390 metros estéreo por hectare.
Clones
Para alcançar esse desempenho é preciso um combo de cuidados com a adubação e uso de herbicidas, além da realização de muitos experimentos envolvendo clones de mudas de eucalipto.
Atualmente, está em desenvolvimento um experimento clonal em Alagoas que avalia a evolução de 100 clones de eucalipto em cinco áreas diferentes da mata alagoana: Maragogi, Marechal Deodoro, São Miguel dos Campos, São José da Laje e Passo de Camaragibe. São nove plantas por clone, totalizando 900 plantas por área experimental.
Ainda existe um estudo comparativo com híbridos alagoanos em Rio Largo, onde são analisados 27 clones, desde 2018, entre híbridos e clones comerciais.
O engenheiro civil Alberon Toledo, diretor do Sindenergia, falou no workshop sobre o potencial energético dos primeiros clones alagoanos de eucalipto, o que considerou satisfatório.
Já o engenheiro florestal Nairam Barros, PhD em Ciências do Solo, explicou detalhes técnicos da implantação e tratos culturais de florestas de eucalipto.
Projeto Silvipastoril em Alagoas
O workshop também abordou o projeto Silvicultura em Alagoas, promovido pelo Sebrae Alagoas em parceria com a Fiea e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e que tem trazido bons resultados para incentivar a cultura do eucalipto no estado. Durante 2021, o projeto deu continuidade às ações realizadas nos últimos anos, como as pesquisas de clones e capacitações envolvendo a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em terras alagoanas.
Ao longo de 2021, foi feita a pesquisa clonal, desenvolvida desde 2017, para estudar os clones mais bem adaptados às condições edafoclimáticas de Alagoas, bem como a capacitação continuada em ILPF, com a realização de módulos teóricos e treinamentos em campo, onde pequenas áreas foram implantadas na modalidade Integração Pecuária-Floresta (IPF), ou Silvipastoril.
“O Sebrae está presente desde o início desses estudos aqui em Alagoas. O cultivo do eucalipto é uma alternativa econômica muito forte em nosso estado”, avalia o diretor-superintendente do Sebrae Alagoas, Marcos Vieira.
O pecuarista Álvaro Vasconcelos, que tem adotado o método silvipastoril em suas fazendas, endossa a posição de Vieira e está confiante no desempenho do plantio de eucalipto. “A cultura da planta já é uma realidade e aquele que não se adequar vai perder a oportunidade”, alerta ele.
O presidente do Conselho Deliberativo Estadual (CDE) do Sebrae Alagoas, Zezinho Nogueira, relembra que a introdução do eucalipto no estado começou há 12 anos, após a crise no setor sucroalcooleiro começar a dar os primeiros sinais e algumas usinas passarem a trocar a cana pela árvore.
E na avaliação do diretor técnico do Sebrae Alagoas, Vinicius Lages, essa tendência de expansão da planta já pode ser considerada a reconversão da Zona da Mata alagoana, antes dominada pelas plantações de cana de açúcar.
“Mais ou menos o que está acontecendo com a nossa bacia leiteira, com a chegada de novas empresas como a Natville. Também temos que ter um debate sobre políticas públicas para essa cultura do eucalipto”, sugere.
Quem defende a mesma linha de raciocínio é o reitor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Josealdo Tonholo. “O cultivo da planta deve ser um planejamento de Estado. Vamos puxar para esse debate a economia, o governo, para irmos para a etapa de soluções econômicas”, recomenda ele.
Contato para a imprensa:
Assessoria de Imprensa do Sebrae Alagoas
Débora de Brito: (82) 99162-5416
