Em celebração ao Dia da Consciência Negra, comemorado neste sábado (20), a programação da Arena Sebraelab, dentro do Trakto Marketing Show, no Centro de Convenções de Maceió, promoveu o painel ‘As Expectativas dos Afronegócios’, mediado por Jonathan Silva, cofundador da Rede Cenafro em Alagoas e CEO da Formmer Afro Consultoria. O espaço contou com as presenças das empreendedoras Rosiléa Viana, da Divinas Pretas (@divinaspretas.mcz) e Joyce Nobre, da Nobre Viver de Arte (@nobreviverdearte) e da Flau Nobre (@flaunobremcz), compartilhando suas trajetórias e desafios.
O painel começou com a apresentação de Jonathan Silva, trazendo dados importantes sobre o afroempreendedorismo no Brasil e o perfil de um afronegócio. Segundo o Instituto Locomotiva, com dados de um estudo feito em 2019, o Brasil tem cerca de 14 milhões de afroempreendedores, sendo 80% deles mulheres.
“Esses 14 milhões de afroempreendedores movimentam cerca de R$359 bilhões por ano, mas muitos deles ainda não dão lucro. Isso se deve ao racismo estrutural que vivemos no Brasil. Por isso, é cada vez mais importante falar do perfil de um afronegócio. Esses negócios valorizam a nossa ancestralidade, valorizam quem somos, de onde viemos e têm muito afeto envolvido em suas realizações, principalmente de empresas iniciadas por mulheres pretas”, pontua.
Casos de sucesso do afroempreendedorismo local
Após a introdução feita por Jonathan, as afroempreendedoras apresentaram seus casos de sucesso. A primeira delas foi Rosiléa, que fundou a loja Divinas Pretas ao perceber que o mercado local não oferecia tantas opções de produtos de beleza e cosméticos para mulheres negras.
“Eu não estava feliz no meu emprego. Trabalhava em um ambiente racista e machista. Chegaram até a me transferir para Curitiba sem nem me perguntarem. Eu não estava feliz, percebi essa lacuna no mercado, deixei o meu emprego e fundei a Divinas Pretas”, revela.
Ela ressaltou que a loja Divinas Pretas que oferece produtos de estética, moda e beleza para a mulher negra, nasceu a partir da atitude dela em deixar o emprego e hoje, com o sucesso do negócio, que depois se tornou uma loja colaborativa, Rosiléa também empodera outras mulheres e dissemina a importância do afroempreendedorismo entre elas.
“Hoje, com minha loja física e colaborativa sou feliz e realizada, principalmente por ajudar outras mulheres que admiro muito pela coragem”, afirma.
Para manter o negócio competitivo, desde o início, Rosiléa Viana conta que sempre buscou participar de feiras, eventos e encontros de empreendedorismo, principalmente com o apoio do Sebrae e da Rede Cenafro.
“Foi com o apoio do Sebrae e Cenafro que eu me percebi empresária, que me descobri com meu próprio negócio. Comecei pequena e hoje sou uma empreendedora, mãe e mulher negra realizada. Hoje tenho liberdade ao fazer o que amo e até recebi convites para tornar minha loja uma franquia. Só tenho a agradecer a Deus”, enfatiza.
Na sequência, foi a vez da empresária e consultora Joyce Nobre, compartilhar a história de suas empresas Flau Nobre e Nobre Viver de Arte. Com o seu primeiro negócio, Joyce ficou em segundo lugar no Prêmio ‘Pega a Visão’, promovido pelo palestrante Rick Chester, que também esteve na programação do Trakto Marketing Show.
“Perdi o meu emprego. E como sempre pensei em empreender, comecei vendendo ‘flau’ porque dava retorno rápido. Comecei a vender na rua, na calçada de uma universidade e logo fui julgada, porque eu era uma mulher negra graduada e pós-graduada e estava fazendo isso. Ia vender flau levando o meu filho e me perguntava se ele gostava de ir comigo. Ele disse que amava ficar comigo lá e isso me fortaleceu”, conta.
Com a pandemia, os negócios ficaram mais difíceis para Joyce. Foi daí que ela decidiu realizar um outro sonho: trabalhar e viver de arte.
“Quando a pandemia teve início, as pessoas não queriam consumir flau, porque elas achavam que iriam ficar doentes. Tive que convencê-las de que isso não influenciava, mas foi difícil. Enfrentei tudo novamente e fui viver através da arte”, destaca.
Assim nasceu a Nobre Viver de Arte que também incentivou Joyce a cursar artes visuais, o qual já está no segundo período. “Comecei a fazer meus vasos e pinturas à mão representando a minha ancestralidade e mostrando a resistência de Dandara, Zumbi e Marielle. Foi durante essa pandemia que fiquei mais forte, que estivemos mais fortes. As pessoas têm que procurar negócios afro. Comprar de amigos que lideram negócios afro”, conclui.