A edição de 2025 do Startup Nordeste contribuiu para consolidar o programa como uma das principais iniciativas de fomento à inovação e ao empreendedorismo em Alagoas. Desenvolvido pelo Sebrae Nacional e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), o programa oferece suporte estruturado para startups em diferentes estágios de desenvolvimento e atua como uma ponte entre a ideia e o mercado, promovendo o amadurecimento dos modelos de negócio e estimulando a criação de soluções tecnológicas capazes de gerar impacto econômico e social no Estado.
Neste ano, o Startup Nordeste recebeu 286 projetos inovadores inscritos na primeira fase. Desses, 100 startups passaram pela etapa de pré-aceleração, 80 foram aceleradas e 40 selecionadas como startups bolsistas para a fase final. Ao longo de seis meses de atuação, os empreendedores receberam orientações sobre modelagem de negócios, validação de mercado, organização financeira, desenvolvimento de produtos e estratégias de crescimento. Além do apoio técnico, as startups bolsistas receberam um apoio financeiro mensal no valor de R$ 6.500,00, totalizando um investimento médio de R$ 39.000,00 por startup e R$ 1.560.000,00 destinados ao fortalecimento dos negócios acelerados.
O perfil predominante das startups esteve concentrado em soluções nas áreas de educação e saúde, segmentos que demandam inovação estruturada e apresentam forte sinergia com os desafios públicos e privados do estado. Entre os destaques estão as startups Nexus BioTox, WSaúde e Severino Pro, cujas trajetórias evidenciam os diferentes impactos do programa.
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Ciência transformada em solução com impacto
A NexusBioTox é uma startup de base científica especializada em testes toxicológicos alternativos, que utiliza modelos de organismos não mamíferos, como mosca-da-fruta e peixe-zebra, para a realização de ensaios pré-clínicos. A empresa iniciou sua trajetória no Startup Nordeste ainda na fase de ideação, a partir da submissão do projeto ao edital, e encontrou no programa o impulso necessário para sair do campo das ideias e enfrentar o desafio de construir uma empresa estruturada.
“A seleção mostrou que a NexusBioTox tinha potencial não apenas científico, mas também econômico, ambiental e social. Foi um divisor de águas, especialmente para mim, que vinha exclusivamente do ambiente acadêmico”, destacou a doutora em Biologia Celular e Estrutural e idealizadora da Nexus, Jerusa Oliveira.
Com o suporte do programa, a empresa conseguiu estruturar processos, ampliar sua visão de mercado e fortalecer sua proposta de valor. Durante os seis meses da bolsa, a NexusBioTox montou suas instalações físicas, participou de edital de incubação, realizou alinhamentos com comitês de ética e enfrentou burocracias naturais do processo empreendedor, como o depósito de marca. Ao final do programa, a startup contava com quatro laboratórios e duas salas de atendimento.
“Esses seis meses foram intensos e transformadores. Crescemos muito como empresa, mas, principalmente, como equipe. Hoje, é gratificante ver que toda essa trajetória acadêmica está servindo de forma mais clara à sociedade. A NexusBioTox gera economia e agilidade no desenvolvimento de produtos químicos, ao mesmo tempo em que agrega valor por meio da sustentabilidade, reduzindo o uso de animais mamíferos e auxiliando grupos de pesquisa e desenvolvimento na definição de limiares de segurança. É ciência aplicada com propósito”, afirma Jerusa.

Crescimento, organização e escala
A WSaúde representa o impacto do programa em startups que já estavam em operação, mas buscavam escalar e organizar seus processos. Ao ingressar no programa, a empresa encontrou um ambiente propício para revisar estratégias, estruturar a gestão e fortalecer indicadores de desempenho. Ao longo da jornada, a startup avançou na organização interna, no crescimento comercial e na clareza de posicionamento.
“Decidimos participar do projeto com o objetivo de criar novas conexões, encontrar parcerias, captar recursos para ampliar o investimento na empresa e refinar nossos processos. Foi desafiador cumprir as atividades, mas elas foram essenciais para os resultados, inclusive financeiros. Saímos de uma receita recorrente mensal de R$ 19 mil para R$ 60 mil desde a submissão para a aceleração até o encerramento do programa, e isso esteve diretamente ligado à criação e à manutenção de processos comerciais e de onboarding”, compartilha Washington Costa, idealizador da WSaúde.
A WSaúde oferece um sistema de gestão e atendimento para clínicas, consultórios e profissionais de saúde autônomos, por meio de uma assinatura de software.

Simplicidade que gera resultados
A metodologia do Startup Nordeste combinou encontros coletivos, mentorias individuais e acompanhamento contínuo das empresas participantes. As startups também passaram por um processo de monitoramento por meio de relatórios periódicos, o que permitiu acompanhar a evolução dos projetos, identificar desafios e orientar tomadas de decisão mais assertivas. Entre os temas mais demandados nas mentorias estiveram estruturação de processos, captação de clientes, precificação e organização interna.
A Severino Pro é um exemplo prático desse impacto. Criada a partir da percepção de uma lacuna no mercado por ferramentas simples e acessíveis, a startup nasceu no final de 2023 com o objetivo de facilitar a gestão de pequenos negócios que ainda dependem de papel e planilhas.
Idealizada para ser um “faz-tudo digital”, a Severino Pro foi pensada para empreendedores que não dispõem de tempo ou estrutura para implantar sistemas complexos. Durante o Startup Nordeste, a ferramenta passou por um processo intenso de evolução, com melhorias significativas, novos módulos e maior maturidade do produto, sem perder o foco na simplicidade.
“O impacto do programa foi enorme. Entramos no mercado em 2025 justamente por causa do Startup Nordeste, não apenas pelo recurso financeiro, mas por todo o aprendizado. Se compararmos a ferramenta que entrou no programa com a que temos hoje, é outra realidade. Houve uma evolução absurda em módulos, funcionalidades e melhorias, sem perder a simplicidade. Além disso, crescemos em número de clientes e amadurecemos, tanto o produto, quanto eu como empreendedor”, conta Gustavo Prado, idealizador da Severino Pro.
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Fortalecimento do ecossistema de inovação
Ao longo do processo, os empreendedores avançaram na validação de suas soluções, estruturaram produtos mínimos viáveis (MVPs), conquistaram clientes, firmaram contratos e aprimoraram seus modelos de negócio. Mais do que números, o programa fortaleceu competências empreendedoras e promoveu uma mudança de mentalidade nos participantes.
“As histórias das startups refletem um impacto que vai além dos negócios individuais. O programa fortalece a cultura empreendedora em Alagoas, gera referências locais, estimula a inovação e amplia a maturidade do ecossistema como um todo. Ao conectar empreendedores, mentores, instituições e parceiros estratégicos, o programa contribui para criar um ambiente mais favorável ao surgimento e ao crescimento de startups, alinhando inovação, desenvolvimento econômico e geração de oportunidades”, pontua Keylle Lima, diretor técnico do Sebrae Alagoas.

Para as próximas edições do Startup Nordeste, a expectativa é de ampliação e aprofundamento do apoio, especialmente em bolsas, networking e parcerias com universidades, setor público e grandes empresas. As tendências com maior potencial no estado apontam para healthtechs, edtechs, soluções de inteligência artificial aplicada, tecnologias verdes e automação de processos, áreas que dialogam com desafios reais e apresentam grande demanda nos setores público e privado.
“Nos últimos anos, é perceptível uma evolução na maturidade do empreendedor inovador alagoano. As propostas apresentadas hoje são mais estruturadas, com maior compreensão sobre validação, desenvolvimento tecnológico e equilíbrio entre impacto e sustentabilidade comercial. O programa também contribui para aproximar o estado de ambientes nacionais e internacionais de inovação, ao estabelecer parcerias estratégicas e inserir os negócios em redes mais amplas, conectando Alagoas a fluxos de inovação antes distantes”, finaliza Washington Lima, analista do Sebrae Alagoas.

