As mulheres empreendedoras do varejo alagoano estão transformando seus negócios por meio de qualificação, inovação e estratégias aplicadas no dia a dia. Dos 96 mil negócios liderados por mulheres no estado, mais de 4 mil são voltados para minimercados, mercearias e armazéns, e cerca de 1.500 atuam no comércio varejista de bebidas, segundo dados da Junta Comercial do Estado de Alagoas. Dentro desse universo, empresas como Mercadinho Maná, Bom Paladar Condimentos e Bomboniere Betel passaram por processos de profissionalização, gerando renda e competitividade local a partir do Projeto Mulheres no Varejo, promovido pelo Sebrae Alagoas.
A trilha de capacitação foi um projeto piloto de quatro meses voltado para mulheres que atuam no setor de alimentos e bebidas, nos segmentos de carnes, bebidas, hortifruti, minimercados, bomboniere, gelatos, negócios da alimentação fora do lar, gastronomia, latrocínios, peixaria e consultoria. Fabrícia Silva, proprietária do Mercadinho Maná, foi uma das 28 empreendedoras selecionadas e, motivada pelas atividades, decidiu reorganizar toda a estrutura financeira do negócio.
De uma família tradicionalmente empreendedora, Fabrícia conta que, desde criança, sonhava em ter seu próprio negócio. “Com 7 anos, eu já observava meus tios trabalhando na feira livre e vendendo frutas. Aquilo me encantava. Aos 8 anos, passei férias na casa da minha avó e decidi vender caju. Colhi a fruta, montei uma mesa e comecei a vender de brincadeira”, relembra.
Com o tempo, buscou capacitação em cursos de vendas e de administração. Na vida adulta, atuou como CLT em empresas do setor, mas sempre com o desejo de empreender. Há 11 anos abriu o Mercadinho Maná, conciliando por muito tempo o negócio com o trabalho formal. A maternidade, segundo ela, foi o ponto de virada. “Conciliar maternidade e negócio é extremamente desafiador, principalmente pela questão do tempo”, afirma.
Durante a trilha, Fabrícia percebeu fragilidades na gestão que nunca havia identificado. “Fiz uma consultoria de diagnóstico financeiro e foi o programa mais completo que já participei. Este mês meu mercadinho vai passar por uma reestruturação financeira total, resultado direto da trilha. Descobri falhas que eu nunca tinha percebido, muito por confiar apenas no contador e não dominar os números da empresa”, pontua.
A empreendedora também destaca a força da rede formada no projeto. “Além do conhecimento técnico, encontrei acolhimento, trocas riquíssimas e experiências que agregaram ao meu negócio. Nas rodadas de negócios fechei com 5 novos fornecedores, o que me permite inovar muito. Não tem como você não ter um retorno”, conta.

Força, acolhimento e ressignificação na jornada empreendedora
Outra empreendedora impactada pelo projeto é Ana Carla Soares, CEO da Bom Paladar Condimentos, empresa com mais de 30 anos de atuação no mercado de sachês de temperos, ervas e especiarias. Mãe de um bebê de 7 meses, ela encontrou na trilha uma rede de apoio em meio aos desafios da maternidade.
“Cheguei e não foi nada do que eu esperava: foi infinitamente melhor. Uma das experiências mais maravilhosas da minha vida e veio num momento muito peculiar, cheio de desafios pessoais e da maternidade. Não foi só sobre capacitação. Ganhei amizades, força e suporte. Me reencontrei, me reergui. Descobri que tinha com quem contar além da família”, relata.
Filha dos fundadores da empresa, Ana Carla reforça o caráter familiar do negócio. “A empresa cresceu, mas sempre terá esse cunho familiar. Prosperamos porque todo mundo deposita algo ali: experiência, vivência, amor, carinho e o ressignificado das dores vividas nesses 30 e tantos anos”.
Apesar da longa trajetória, ela segue em busca de capacitação. A trilha trouxe um novo olhar sobre a empresa. “Ressignificou minha forma de liderar e me fez enxergar meu negócio com mais carinho, zelo e organização. Hoje entendo que não é apenas ‘tocar um negócio’, é cuidar de algo que amo. A trilha trouxe organização pessoal e empresarial. Já fiz muitos cursos no Sebrae, mas essa foi a primeira vez que saí dizendo: ‘Vai dar certo. E aqui é só o começo’”, pontua Ana Carla.

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Organização, liderança e novos rumos para o futuro
Organização também foi um ponto-chave para Daisy Ellen, proprietária da Bomboniere Betel. Com 10 anos de mercado e dois colaboradores, ela divide a rotina entre o empreendimento e a graduação em Medicina Veterinária. A trilha ajudou especialmente na gestão do tempo.
“No começo hesitei por conta da correria, mas decidi participar e foi a melhor decisão. Os impactos no meu negócio foram reais. A consultoria de gestão foi essencial, porque sem organização nada funciona. A consultoria financeira abriu minha visão sobre os números da empresa e me incentivou a procurar um novo ponto para melhorar minha margem de lucro, já que a região atual é muito competitiva”, explica.
Daisy também destaca o aprendizado sobre liderança. “Sempre tive um perfil muito amistoso com a equipe, e precisei entender que liderança envolve limites e responsabilidades”.
Mesmo cursando uma graduação distinta do segmento atual, ela enxerga possibilidades de expansão. “Meu plano é encontrar alguém para gerenciar a bonbonniere e investir também na área de pet, segmento que meus pais já atuam e que sempre me chamou atenção. Quero continuar crescendo e expandindo. Inclusive, pretendo seguir no Sebrae, porque percebi o quanto ainda há para aprender. No empreendedorismo, a gente nunca sabe de tudo”, compartilha.
Iniciativa inédita
O Projeto Mulheres no Varejo é o primeiro do Sistema Sebrae voltado exclusivamente para mulheres do segmento, inicialmente focado em alimentos e bebidas. A iniciativa teve início em agosto de 2025 como um projeto piloto, com oficinas presenciais, workshops virtuais e mentorias individuais. As empresárias participaram ainda de missões empresariais, gravação de podcast e rodadas de negócios, que geraram conexões e resultados indiretos expressivos.
“A partir das experiências que vivenciamos, especialmente no trabalho diário de escuta ativa e gestão de carteira, surgiu a ideia de criar essa trilha. Convidamos empresárias de diferentes segmentos do varejo para co-criar o projeto. Também contamos com quatro instrutoras credenciadas do Sebrae que se voluntariaram para a construção da trilha”, explica Agda França, analista do Sebrae Alagoas à frente do projeto.

O programa ofereceu mais de 180 horas de conteúdo, unindo teoria e prática. “Um negócio bem estruturado, com foco na gestão, comunicação e organização financeira, opera de forma mais assertiva. Os ganhos observados envolveram melhoria de performance, estrutura, gestão e autogestão. Identificar fragilidades enquanto gestoras é um avanço fundamental que impacta todos os demais indicadores”, completa.
O encerramento da trilha aconteceu no dia 02 d dezembro, com a palestra Trilha de Sucesso: Varejo em Foco, ministrada pela mentora de Marketing Digital, Keyla Gabrielle. Na ocasião, as 25 empreendedoras que finalizaram o projeto receberam uma placa em reconhecimento às suas trajetórias na trilha.
Helena Brito Doceria, Mercadinho Antarctica, Suspiro de Morena, Mercadinho Cesta de Complementos, Boteco do Uruga, Supermercado Show de Preços, Pajuçara Frios, Multimercado Estrela, Galetos e Assados, Frigobife, Dueto, Confeitaria Larynne Suíça, Consultoria 083, Petisco da Chica, Qually Peixe Pescados, Cestas com amor, Bendito Coco, Anis Estrela, Arteira na Cozinha, Arekos e Kombucha Soucura foram os negócios impactados pelo projeto.
“Nosso objetivo é que, no próximo ano, possamos executar uma trilha ainda mais aprimorada, construída em colaboração com as próprias clientes, que melhor conhecem suas dores e necessidades. Também planejamos co-criar versões regionais, envolvendo as agências do Sebrae de Delmiro, Arapiraca e Penedo. É uma metodologia inédita no Brasil, e mais uma vez Alagoas sai na frente com uma solução inovadora para uma dor real do varejo feminino”, conclui Agda França.


