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Muito além dos números de produção ou de dados técnicos, a verdadeira safra recorde de 2025 no Sul de Alagoas foi a transformação de vidas. O campo, historicamente visto como um local de trabalho árduo, consolidou-se como espaço de reinvenção e negócios para 1.434 produtores rurais atendidos pelo Sebrae Penedo. Neste ano, a enxada e o trabalho ao sol dividiram o espaço com a caneta e a sala de aula, mudando a realidade de agricultores que agora gerenciam suas propriedades como empresas rurais. A mudança demonstra que o Sebrae atua não só para melhorar a renda, mas para desenvolver a autonomia e devolver a perspectiva de futuro a centenas de famílias do Baixo São Francisco.
Para Francisco Guilherme, da Regional Sebrae Penedo, o ano de 2025 consolidou o modelo de atuação que integrou diversas cadeias produtivas, aliando o desenvolvimento territorial, impulsionado por parcerias como o Prodeter do Banco do Nordeste; ao crescimento individual de cada empreendedor rural. Segundo ele, o acesso a consultorias técnicas e a novos canais de venda, como as feiras, permitiu aumentar as vendas e reduzir custos, entregando soluções reais para os desafios do campo.
“É importante destacar que essas atividades em conjunto trazem um novo status para nossa região em relação às oportunidades que podem ser geradas com o agronegócio. Conseguimos obter sucesso com inovação e atender, principalmente, a dor e a necessidade desses produtores”, avalia.
Força feminina floresce na gestão e no resgate ancestral
Cada vez mais, o campo é liderado por mãos femininas. A ação de maior impacto em volume de atendimentos aconteceu logo em março, com o Mutirão da Trabalhadora Rural, que reuniu 575 mulheres na agência Sebrae Penedo. O evento funcionou como ponto de partida para a profissionalização, conscientizando sobre a importância do Cadastro da Agricultura Familiar (CAF) e oferecendo orientações financeiras. Essa mobilização avançou para debates estratégicos, com a inclusão das mulheres em todas as demais atividades desenvolvidas na região.
O exemplo do protagonismo feminino vem de um quilombo localizado na zona rural de Igreja Nova. A Associação das Mulheres Guerreiras do Sapé, liderada por Maria Quitéria, transformou as tradições culinárias em empreendedorismo sustentável. Com o apoio do Sebrae em oficinas de gestão e produção, elas transformaram as receitas ancestrais de sequilhos, bolos, beijus e macasadas em produtos com ficha técnica, prazo de validade e segurança alimentar.
“Nosso principal objetivo era acabar com a evasão de famílias por conta da falta de opções de trabalho. Tanto na região do Sapé como de Tabuleiro dos Negros [município de Penedo], muitas famílias se mudaram para Minas Gerais ou Mato Grosso em busca do sustento. A ideia foi reunir um grupo de mulheres e resgatar as receitas dos quilombos, que estavam adormecidas e que ninguém valorizava, usando os produtos que tínhamos na região, como antigamente”, conta Maria Quitéria.
A ideia prosperou. Hoje, com o suporte do Sebrae expandindo horizontes, elas não apenas vendem nas feiras locais, mas enviam encomendas para outros estados e credenciaram-se para fornecer ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
“Antes, o grupo era formado por apenas oito mulheres, hoje somos 52, mas o trabalho envolve também maridos, filhos, genros e noras. Famílias que mais cedo ou mais tarde deixariam a comunidade em busca de sobrevivência, agora vivem das suas raízes ancestrais”, complementa.
Da terra para a mesa, a profissionalização abre mercados
Além do suporte às comunidades tradicionais, o Sebrae intensificou ações para fortalecer a agricultura familiar como um todo. Consultorias, o inédito 1º Capacita Feira e a consolidação da Feira da Agricultura Familiar, que ocorre semanalmente em dois bairros de Penedo, fazem parte da estratégia para encurtar a distância entre quem produz e quem consome.
Realizado em parceria com a prefeitura de Penedo, por meio das secretarias de Desenvolvimento Agrícola e Desenvolvimento Econômico, Casa do Empreendedor e Emater, o Capacita Feira teve programação voltada para avanços e perspectivas da feira da agricultura familiar, inspeção de produtos de origem animal, boas práticas de segurança alimentar, economia solidária, tratos culturais como diferencial dos produtos vegetais e também empreendedorismo e gestão do agronegócio.
“As capacitações foram voltadas para mitigar as necessidades dos produtores rurais em relação à precificação e também à padronização dos produtos processados e derivados. Além disso, a chegada do Selo de Inspeção Municipal (SIM) abre a possibilidade para estruturar e ampliar a gama de produtos de origem animal ofertados na feira da agricultura familiar”, explica Francisco Guilherme.
Tecnologia e genética impulsionam a pecuária de leite
Palestras com especialistas da Adeal e da Ufal abordaram temas cruciais, como higiene na ordenha e biossegurança contra a brucelose, reforçando a parceria de seis anos com o Prodeter/BNB no desenvolvimento da cadeia produtiva. A Fazenda Boa Vista, de Junqueiro, atendida pelo Sebraetec, tornou-se vitrine desse sucesso. Em agosto, produtores da região visitaram a propriedade e viram na prática como o melhoramento genético por meio de fertilização in vitro (FIV) mudou a realidade da propriedade rural.
O ciclo de aprendizado se fechou em dezembro, com o 2º Seminário da Bovinocultura do Leite do Baixo São Francisco, que apresentou outros casos de sucesso, como o do Laticínio Santa Maria, de Major Izidoro, provaram que o pequeno produtor, quando bem orientado, cresce em qualidade e presença de mercado.
Por meio de palestras, o evento abordou temas, como higiene na produção de leite, desde o manejo da vaca até a produção do queijo; e cuidados de boas práticas e biossegurança para evitar a brucelose no rebanho, ministradas pelo fiscal agropecuário da Adeal, Roberto Wagner Pinheiro, e pela professora da Ufal, doutora Josilaine Matos, temas essenciais para o desenvolvimento sustentável da atividade leiteira, fortalecendo a qualidade, produtividade e competitividade da região na pecuária de leite.
O evento também fortaleceu a parceria com o Prodeter, que em seis anos de programa, com o total apoio do Sebrae, colocou em prática várias ações para o desenvolvimento da cadeia produtiva.
Doce negócio: a nova economia do mel
Se o leite é a força tradicional, o mel desponta como nova oportunidade econômica. O primeiro Encontro de Criadores de Abelhas reuniu mais de 60 produtores da região, ação decisiva para mapear a cadeia produtiva na região e identificar gargalos.
A iniciativa está ajudando a expandir a produção e melhorar a qualidade dos produtos derivados da apicultura e meliponicultora, como aconteceu com o agricultor familiar Enaldo Machado, de Penedo. Após atuar na produção de abacaxi e cana-de-açúcar, a participação do encontro foi fundamental para ele ter segurança em investir na produção de mel.
“Achava que era só colocar a caixa e esperar o mel. Não tinha muita noção de como funcionava. No encontro aprendi que é preciso ter técnica, mas o retorno é rápido. Agora estou convencido que a criação de abelhas pode ser uma fonte de renda segura para minha família”, explicou.
Com o terreno preparado e as sementes da inovação plantadas em 2025, o Sebrae Penedo projeta um novo ano de colheita farta para o Sul de Alagoas. Para 2026, a meta da instituição é seguir lado a lado com quem produz, garantindo o compromisso de manter o apoio contínuo ao agronegócio, focando na ampliação do acesso a mercados e no fortalecimento das cadeias produtivas locais.
