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Alagoas é destaque na produção de lúpulo para fabricação de cerveja

Com o apoio do Sebrae Alagoas, estado começa a ter protagonismo com primeira empresa com escala comercial do Nordeste
Por Débora Muniz
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Visando a ampliação de culturas produzidas pelo agronegócio em Alagoas e para estimular o crescimento da produção local de cervejas, a empresa Hop is All se tornou pioneira na produção de lúpulo no Nordeste. Com o apoio do Sebrae Alagoas, a empresa, que é a primeira com escala comercial na região, realizou no último dia 24, o 2º Dia da Colheita do Lúpulo, na Fazenda Sete Léguas, em União dos Palmares, a 73 quilômetros de Maceió.

Durante o evento foram apresentados dados promissores das pesquisas conduzidas pela Embrapa em parceria com estudantes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Os estudos revelaram que o cultivo tem condições naturais ideais para a produção, o que abre caminho para um controle biológico e sustentável, sem a necessidade de defensivos químicos.

Outro aspecto de destaque foi a qualidade do lúpulo produzido, que apresentou altos teores de alfa-ácidos e óleos essenciais, fatores determinantes para a produção cervejeira. Segundo análises químicas, o teor de óleo encontrado no lúpulo da propriedade superou a média de muitos cultivares nacionais e internacionais, atraindo a atenção de especialistas do setor. A mestre cervejeira e engenheira química Chiara Barros, jurada em concursos nacionais, também elogiou a qualidade do insumo local, reforçando sua competitividade no mercado.

Expansão

Diante desses resultados, o produtor Aluysio Righetti vem expandindo sua produção com apoio do Centro de Tecnologia do Nordeste (CETENE) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Atualmente com 500 plantas de 08 variedades, mais 2 mil mudas serão plantadas em meio hectare. Além disso, o produtor investiu em um paletizador para processar o lúpulo no formato ideal para a indústria cervejeira, facilitando sua comercialização e distribuição.

A expectativa é que, nos próximos meses, a produção local impulsione novas criações no mercado cervejeiro alagoano. Em maio, cervejeiros dos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba planejam lançar rótulos exclusivos utilizando o lúpulo cultivado na região. “Essa iniciativa não apenas fortalece a agricultura local, mas também fomenta a inovação no setor cervejeiro, proporcionando às microcervejarias acesso a uma matéria-prima de alta qualidade e de produção regional”, destaca Januacele Vieira.

A cervejaria alagoana Caatinga Rocks, que já utiliza lúpulo cultivado na Fazenda Sete Léguas, teve, em 2024, um de seus rótulos eleito o melhor do Brasil no concurso Brasil Beer Cup, realizado em Florianópolis (SC). No mesmo concurso, tanto a Caatinga Rocks quanto a também alagoana Hop Bros figuraram entre as 50 melhores cervejarias do país.

Esta foi a colheita da quinta safra de lúpulo no estado, o encontro reuniu 56 participantes, entre produtores rurais e agroindustriais de cervejas da região, pesquisadores e técnicos cervejeiros e agrícolas, assistentes da Emater/AL e lojistas de insumos para cervejarias.

Olhar empreendedor

Há dois anos, o produtor Aluysio, já parceiro do Sebrae em outras culturas, decidiu inovar e iniciar o plantio de lúpulo em sua propriedade. Inspirado por uma reportagem do Globo Rural sobre o cultivo da planta no Brasil, especialmente na região Sul, ele resolveu testar sua viabilidade em Alagoas. Para isso, iniciou com oito espécies diferentes, observando como cada uma se adaptava ao solo e ao clima local.

Com a primeira colheita, Aluysio reuniu cervejeiros alagoanos para conhecerem de perto sua produção e experimentarem a matéria-prima local. No Brasil, cerca de 90% do lúpulo consumido é importado, o que encarece os custos e limita a disponibilidade de algumas variedades para as cervejarias artesanais. A iniciativa do produtor pode representar um avanço para o setor, reduzindo a dependência de importação e fortalecendo a cadeia produtiva da cerveja no estado.

O processo de fabricação da cerveja artesanal é diferente das grandes marcas, que são focadas na alta produtividade. “Eles vão fabricar em grande volume e não estão muito preocupados com sabores e em fazer muitas misturas, vão fazer o básico, que é ter o malte, as leveduras que irão fermentá-lo sob condições ideais, acrescentar o lúpulo e ter minha cerveja, pois estão focados na padronização, larga escala, baixo custo e homogeneidade de sabores. Então, nesse caso, para essas grandes cervejarias, eles preferem um lúpulo de amargor, que é a característica que eles querem dar na cerveja deles.”, explicou Januacele Vieira, analista do Sebrae Alagoas.

O empresário Aluysio, através do CETENE tem avançado no mercado do lúpulo ao estabelecer contato com grandes cervejarias, como o Grupo Petrópolis. Em reuniões estratégicas, ele apresentou sua produção em Alagoas, destacando o potencial de um insumo local para fortalecer a identidade regional das marcas. As empresas demonstraram interesse na iniciativa, reconhecendo a relevância de agregar ingredientes nacionais às suas cervejas.

Durante as conversas, as cervejarias sugeriram que Aluysio investisse no cultivo do lúpulo de amargor, uma variedade essencial para a fabricação de suas bebidas. A orientação pode representar um passo importante para a consolidação do lúpulo alagoano no mercado, reduzindo a dependência de importação e abrindo portas para parcerias promissoras no setor cervejeiro.

As cervejarias artesanais têm um processo de produção mais longo e detalhado, permitindo maior experimentação na criação de sabores. Essa liberdade criativa é uma das principais características do setor, que busca constantemente inovar e diferenciar seus produtos. Para isso, os mestres cervejeiros utilizam uma variedade de ingredientes, incluindo frutas, cereais e diferentes tipos de lúpulo, tornando a alquimia dos sabores um fator essencial na identidade de cada marca.

No entanto, a dependência de insumos importados torna o processo mais caro e desafiador para pequenos produtores. Nesse contexto, a produção local de lúpulo em Alagoas surge como uma oportunidade estratégica, permitindo às cervejarias artesanais trabalharem com um ingrediente adaptado à região e desenvolver novas formulações. Diferente das grandes indústrias, que mantêm perfis de sabor consolidados no mercado, as cervejarias artesanais podem se beneficiar dessa matéria-prima para explorar novos aromas e criar produtos exclusivos, fortalecendo ainda mais a cena cervejeira independente.