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As aptidões necessárias para ser um líder de negócio exemplar, que atenda não só as exigências de um mercado em transformação, mas também seja inspiração para sócios e colaboradores, foram pontuadas pelos palestrantes Alexandre Pellaes e Felipe Carneiro, na noite de quinta-feira (17), no primeiro dia do evento ‘O Futuro da Liderança’. Iniciativa do Sebrae Alagoas, as palestras continuam nesta sexta-feira (18), desta vez em Delmiro Gouveia, no alto sertão do estado.
Quem abriu as palestras em Maceió, no auditório do Sebraelab, foi Alexandre Pellaes, que traz no currículo mais de 20 anos de carreira, indo de estagiário a CEO, com passagens por empresas nacionais, multinacionais, públicas, privadas, gigantes e startups. Ele defende a adoção da liderança em equipe, ou liderança compartilhada, deixando de lado a tendência tradicional de ‘encastelamento’ que costuma pairar sobre os chefes.
“Certamente, de uma pessoa com responsabilidade de chefia será esperado um bom comportamento e construção de liderança positiva. Afinal, liderança não é um cargo, é uma mentalidade. E sua qualidade não se apresenta como atributo de uma pessoa. Liderança é atributo de uma relação”, diz.
“É preciso conexão com o time para a realização de um bom trabalho. O líder deve se fazer presente e, principalmente, mostrar-se interessado. A gestão deve ser compartilhada e não suprimida. Enquanto as equipes não possuem maturidade ou competência (técnica e emocional) para lidar com problemas complexos, a chefia deve ser um ponto de reforço de gestão e de construção de relações e visão empreendedora responsável”, completa.
Pellaes reforçou a importância de um verdadeiro líder de negócios estar atento de que “liderança é sobre se importar com as pessoas e com o negócio”. Alertou para cuidados como não se tornar o que ele chama de ‘liderança buffet infantil’. “Nesse tipo de situação, nós temos um líder instável e ausente. Como resultado, nós temos uma equipe que não trabalha muito e que está distraída com mimos como jogos no local de trabalho, por exemplo”, observa.
Mundo V.U.C.A
Alexandre Pellaes também abordou o conceito de Mundo VUCA e os impactos e perspectivas para indivíduos e organizações no mundo pós-pandemia. O chamado Mundo VUCA é um conceito relacionado aos imprevistos e rapidez com que as mudanças ocorrem no mercado. Essa ideia de que as coisas hoje acontecem muito mais rápido do que antes foi pontuado pelo palestrante.
“VUCA é um acrônimo (em inglês) utilizado para se referir ao perfil do mundo atual: V – Volatile (volátil), U – Uncertain (incerto), C – Complex (complexo), A – Ambiguous (ambíguo). Tem gente que já complementa esse termo, dizendo que é o Mundo MUVUCA. Parece uma piadinha, mas não é. Basta adicionar o conceito M – Meaningful (significativo) e U – (Universal). Neste cenário, o trabalho apresenta-se em transformação acelerada, enquanto modelos econômicos e políticos são questionados como base da sociedade que se redesenha”, analisa.
“Antigamente, na população ativa, tínhamos dois tipos de pessoa: a empregada, que recebia os rótulos de útil, trabalhadora, batalhadora, esforçada, produtiva; e a desempregada, também conhecida como coitada, sem sorte ou vagabunda. Essa era uma época de certezas (falsas) de que o emprego trazia garantias. Atualmente, há diversos modelos para formalizar uma relação de trabalho e devemos falar sobre outra classificação de pessoas: ocupadas ou desocupadas”, avalia ele.
“Aliás, nós todos conhecemos indivíduos que têm emprego e que são bem desocupados; bem como há pessoas que não possuem emprego, mas sempre estão ocupadas e se colocam em uma zona constante de produção. Um cuidado essencial é não usar as características do mundo VUCA como uma muleta – do tipo “nossa, o mundo é muito complexo e incerto, então nem adianta mais fazer planejamento”, ou outra bobagem do tipo”, completa Pellaes.
Para ele, as formas de planejar, inovar, testar, mensurar e ajustar mudaram, mas essas atividades continuam mais importantes do que nunca. “Então não vale se fazer de ‘Horácio’, ‘de João sem braço’. É preciso encontrar e aplicar novas formas para realizar essas atividades, sempre com consistência, assertividade, sem ficar em cima do muro, e transparência”, reforça.
Líder cervejeiro
Após a palestra de Pellaes, foi a vez do empreendedor José Felipe Carneiro pontuar as qualidades de um líder para o novo modelo de mercado que se anuncia. Com bom humor e otimismo que contagia até os mais céticos, ele comprovou, por meio da própria história de vida, como a vontade de superar limites levou a Wäls, sua cervejaria, ao patamar das mais importantes empresas do setor no mundo.
“Fala-se muito do topo, mas ninguém fala da jornada. Hoje as pessoas inventam muitas palavras. Falam agora em empreendedor em série. A gente olha para nossa história, para a história da nossa família, e a gente fala que quebramos empresas em série. Tivemos muitos negócios que não deram certo, a maioria, aliás. Foram 26 negócios. Criação de frango, padaria, sorveteria, boate… E alguns deram certo, como a cervejaria Novo Brazil, a Wäls Cervejas, que se tornou parte do grupo Ambev”, conta.
Para chegar ao topo, ele conta que a fórmula para atravessar a jornada é ser fiel ao tripé “saúde – alegria – trabalho duro”.
“Porque sem saúde, seja ela física ou mental, você não consegue avançar para a etapa seguinte, que é fazer as coisas com muita alegria e paz no coração. E quando se está de bem com a vida, com alegria contagiante, você consegue se jogar num trabalho duro, o que vai aos poucos te empurrando rumo ao sucesso. É aqui que nasce um líder. E é preciso sim liderar pelo exemplo. Seja exemplo para a sua equipe”, sugere.
Carneiro destaca que é preciso também motivar nas pessoas o chamado “sentimento de dono”, para que liderança e liderados possam colher os frutos do empenho no trabalho, o que costuma vir na forma de ganhos salariais, bônus, desempenho de alta performance e qualidade de vida no ambiente de trabalho.
“Tem que dar confiança, apoiar o seu colaborador. É preciso também deixar o ‘sentimento de família’ entrar na empresa. Porque família é tudo na nossa vida, e isso pode ser passado para a sua equipe, esse sentimento de união entre todos”, diz. “Também é importante escolher pessoas melhores que você, sempre. Porque a chance de algo dar errado é nula quando se tem à mesa, sentado na sua equipe, alguém com quem você possa aprender”, completa.
O líder cervejeiro também indica pôr em prática o que ele chama, com bom humor, de Regra TBC. “Traduzindo: Tira a Bunda da Cadeira. Esteja sempre atento para a necessidade de evoluir e adaptar-se. Todo mundo tem a falsa ilusão de que deu tudo certo na nossa vida, mas deu muito mais errado do que certo. O que a gente acerta, tentamos repetir, falar mais dos acertos. As frustrações existem aos montes, são o que te faz crescer no negócio”, afirma.
“Há algum tempo eu fui para Miami visitar as cervejarias para vender a nossa cerveja, a Novo Brazil. A gente já está na Califórnia e queria ir para mais lugares. Quando eu vou fazer isso no Brasil, quando eu visito os pontos de venda, eu faço vendas grandes, estou acostumado. Quando eu fui fazer isso na Flórida, eu passei um dia inteiro tomando ‘nãos’. Decidimos continuar apenas na Califórnia até que esteja tudo mais afinado. Você tem que saber sair do jogo, saber a hora de desistir. Mas só para voltar melhor depois”, explicando na prática uma atitude de liderança.
Evento
O evento ‘Futuro da Liderança’ continua nesta sexta-feira, em Delmiro Gouveia, às 19h, no Hotel Aline. Além de José Felipe Carneiro, também vai ocorrer a palestra da especialista em comportamento humano e psicologia nas organizações,Verônica Gurgel. Ela iniciou sua jornada profissional em 1985 nos segmentos de alimentação e vestuário. Em 1990, iniciava uma nova fase que durou 17 anos, atuando como gestora em uma empresa familiar com atividades nos ramos de entretenimento, alimentação e hospedagem.
Em 2000, ela ingressou no Programa das Nações Unidas / Unctad / Sebrae chamado Empretec, um dos programas mais relevantes em empreendedorismo no mundo, e atua desde então por todo país como selecionadora de candidatos com perfil empreendedor e facilitadora no processo intenso de mudança comportamental.
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