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Artesãos alagoanos participam de oficina de inovação no Sebrae

Mestres da arte popular trocaram conhecimentos e assistiram palestra sobre humanização na era digital
Por Iracema Ferro - Partners Comunicação
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Produzir, criar um produto vendável, ser empreendedor e ainda assim manter a humanização que é a principal marca do trabalho artesanal. Como conciliar todas essas necessidades? Com este objetivo, o Sebrae de Alagoas promoveu, nesta terça-feira (28), o Encontro de Artesãos Alagoanos, reunindo cerca de 60 mestres da arte popular para a oficina “Na Era Digital, Ser Humano é Inovação” com Júlio Lêdo, consultor especialista em Negócios de Impacto.

“O criativo não pode nunca perder de vista o aspecto humano, mas é essencial ter o lado empreendedor, que passa por valorizar e atender às técnicas artesanais, além de usar instrumentos de gestão contemporânea. Este é o nosso chamado para os artesãos de Alagoas”, assinala Júlio Lêdo.

O consultor destaca que a produção artesanal, seja com madeira, palha, barro, tecido, linhas ou outros materiais, carrega consigo respeito, história, acolhimento e pertencimento. “O universo criativo traz cor e alma a este mundo cada vez mais automatizado. Por isso, sermos reais é o primeiro passo para inovarmos. É importante olharmos as tendências (cores, modelagem, etc.), mas o nosso trabalho, o nosso poder criativo é só nosso. Nossa arte precisa ter a nossa alma, que é o que gera encantamento, faz com que as pessoas desejem usar essas peças, ter em casa. Sempre buscar fazer o que todo mundo está fazendo faz o artesão perder sua essência, sua autenticidade”, avalia.

Ele defende que é essencial respeitar as técnicas, mas criar produtos com valor agregado, atendendo às necessidades do mercado, inovando na forma de transportar, no tamanho das peças para facilitar a venda para outros estados e países. Júlio Lêdo também defende que o artesão possa conciliar seu tempo de produção ao tempo que o mercado pede. Para isso, é essencial que o criativo calcule bem o tempo para a entrega das encomendas mantendo o padrão de excelência das peças, sempre com um margem de erro, para que os imprevistos não impeçam de honrar seus compromissos e o cliente fique satisfeito tanto com a qualidade dos produtos quanto com a pontualidade.

“Precisamos ir além da produção e das vendas, nosso negócio artesanal precisa ter uma boa gestão, com geração de impactos positivos, interconexões além do resgate e valorização dos saberes locais”, completa Júlio Lêdo.

A analista e gestora de Artesanato do Sebrae, Marina Gatto, realçou que a instituição está à disposição dos mestres artesãos para fortalecer o setor. Mas sempre respeitando o fazer artesanal, para que as peças produzidas por eles continuem expressando os modos de viver da sua comunidade, seus valores, sonhos, crenças, percepções e contando as histórias de suas comunidades, preservando e perpetuando a arte popular.

Novo olhar

Francisca Lima Lessa Lôbo nasceu em Porto Nacional (TO), mas mora em Penedo (AL) desde a juventude. Ela aprendeu a arte do bordado livre aos 7 anos com a mãe, Rita Cesário, e ajudava em encomendas da matriarca. Em 1997, quando trabalhava em Penedo, foi convidada a ajudar na associação de bairro e, com a mãe, resolveu montar um grupo para ensinar as mulheres a bordar.

Rita Cesário faleceu, mas Francisca deu continuidade ao legado da mãe e já são 35 famílias ribeirinhas que aprenderam o ofício com ela. A associação Pontos e Contos hoje reúne mulheres bordadeiras responsáveis por peças exclusivas, coloridas e de uma delicadeza singular. “Mesmo com tantos anos de artesanato, é sempre bom obter novos conhecimentos, conhecer pessoas e poder aprender como trabalhar da melhor forma, melhorando o processo produtivo e alavancando as vendas”, explica a artesã.

Aline Gonçalves dos Santos é de Belo Monte, no Sertão alagoano, e discípula do mestre Jasson, um dos artesãos mais conhecidos do Nordeste, que produz esculturas em madeira. Entalhando peças com cabos de vassoura, Aline atendeu a recomendação de seu mestre que disse: “ganhe o mundo, que você está pronta”, e desde maio do ano passado tem seu próprio ateliê onde confecciona diversas peças, mas as suas favoritas são árvores (em especial o cajueiro) e pássaros, alguns deles traduzidos do seu imaginário. “Estar neste evento é maravilhoso. Conhecer gente que eu só via nas redes sociais, parceiros. Tive um mundo de ideias nesta oficina e quero levar para a produção e gestão do meu ateliê”, frisa.

Valéria Viana, da Associação dos Artesãos do Pontal da Barra, produz filé, um dos ricos artesanatos de Alagoas, que ganhou o mundo em forma de vestuário e produtos de cama e mesa. Apesar da larga experiência, ela afirma que a oficina “abriu um leque na mente”. “São tantas coisas que fazemos sem sistematizar. Vejo que precisamos aprimorar a gestão, além da necessidade de levar novos cursos do Sebrae para a associação”, enumera.