O uso de plataformas digitais para escoamento de produtos agroalimentares e o trabalho desenvolvido por algumas cooperativas para se adaptar ao e-commerce foi o ponto central do último painel do II Seminário Internacional “Estratégias de Valorização de Produtos Agroalimentares”. O evento é uma realização do Sebrae Alagoas, Embrapa Alimentos e Territórios e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
‘Mercados Digitais: construindo novos vínculos entre cidade e campo’ foi o tema do terceiro painel, na tarde desta sexta-feira (19). O professor Paulo André Niederle, da UFRGS, falou um pouco sobre a pesquisa que realizou junto a experiências inovadoras de plataformas digitais cooperativas de comercialização de alimentos. O trabalho dele resultou no livro Mercados Alimentares Digitais: inclusão produtiva, cooperativismo e políticas públicas.
“O primeiro aspecto que chamou muita atenção diz respeito ao arranjo organizacional para gestão dessas plataformas. São plataformas criadas por cooperativas que já operavam outros mercados, não muito diferente de alguns mercados que a gente já conhece. E a gente tem visto, acompanhando várias plataformas que são criadas e não conseguem se manter, que é um segmento muito complicado do ponto de vista de custos e de concorrência também em alguns casos”, revela.
“Essas cooperativas se destacaram também por alguns aspectos que foram centrais para a viabilização das plataformas. O primeiro é a participação, a forte liderança de jovens e mulheres, e também o manejo das ferramentas digitais. O próprio discurso, a forma como esses atores sociais ou essas atrizes sociais se relacionam com os agricultores e consumidores”, destaca. “Tem um aspecto de empatia, de relação no funcionamento dessas plataformas que se mostrou central para a própria viabilização delas”, completa o professor Niederle.
A coordenadora-geral da Cooperativa GiraSol, Tanara Lucas, reforçou esse aspecto da empatia colocado pelo professor da UFRGS, ao fazer sua apresentação sobre o tema “O comércio justo e o consumo consciente da Cooperativa GiraSol”.
Ela relembrou que o grupo começou com o modelo de compra programada para escoar a produção, ainda na modalidade planilha de Excel, que era enviada aos consumidores para escolha dos produtos que seriam enviados às residências.
“A gente surgiu em 2006 e a nossa primeira fase foi até 2011. Nós ficamos 5 anos inativos. Em 2016 a gente resolveu reabrir a Girassol, e de 2016 a 2019 ficamos trabalhando no que a gente chamava de modelo de compra programada. As pessoas faziam o seu pedido de forma remota na época e a entrega era uma vez por semana. Os pedidos eram feitos através de uma planilha de Excel, que a gente mandava para os consumidores, via e-mail, eles marcavam ali os produtos que queriam da cooperativa e nos devolviam por e-mail”, relembra.
“Depois a gente conseguiu migrar para um site, que é o site que a gente usa até hoje. E quando chegou a pandemia, o fato de já termos um site no ar foi muito bom para lidar com essa fase. Até porque a cooperativa sempre defendeu o distanciamento, o cuidado com a saúde nessa pandemia”, conta Tanara. O endereço do site é https://coopgirasol.com.br/loja/.
Caatinga em foco
Já o diretor-presidente da Central da Caatinga, Adilson Ribeiro dos Santos, falou no mesmo painel sobre “As estratégias de mercado dos produtos da biodiversidade da Caatinga”. Ele explicou que a cooperativa escoa hoje a produção de duas maneiras: por meio do Armazém da Central da Caatinga, vendas para entes governamentais e também pelo site https://loja.centraldacaatinga.com.br/.
“O Armazém da Central da Caatinga é um espaço comercial estratégico, especializado na diversidade de produtos da agricultura familiar e da economia solidária. Esta iniciativa possibilita a visibilidade não só dos produtos das cooperativas filiadas, mas também de outros empreendimentos da agrobiodiversidade brasileira. A curadoria dos produtos leva em consideração os métodos de produção agroecológica, adoção das boas práticas de segurança alimentar, comercialização solidária, gestão coletiva e preservação do meio ambiente”, explica.
“Grande parte dos produtos comercializados possuem certificação orgânica e selo da agricultura familiar. A seleção de produtos inclui uma diversidade de alimentos naturais, livres de agroquímicos, sustentáveis e com capilaridade para a geração de emprego e renda para comunidades rurais, em especial no semiárido brasileiro”, completa o produtor rural.
Santos explica que a Central da Caatinga conta com uma loja física situada na sede administrativa, em Juazeiro (BA), e a loja virtual com serviço de delivery na região do Vale do São Francisco e entregas em todo Brasil.
“A Central da Caatinga é uma instituição preparada para o fornecimento de uma grande diversidade de alimentos naturais, livres de agroquímicos e sustentáveis através de suas nove cooperativas filiadas. A compra institucional da agricultura familiar garante a evolução social e econômica dos agricultores familiares, a partir de formas alternativas de produção e comercialização de alimentos. Todos os produtos cumprem as regulamentações técnicas exigidas pelas Agências de Vigilância Sanitária e Serviços de Inspeção Sanitária”, observa.
Para dar uma visão de como é o cenário mundo afora, a organização do evento também convidou para a última parte da programação o professor Gianluca Brunori, da Universidade de Pisa, que falou sobre “As experiências europeias em mercados agroalimentares digitais”, e também o presidente da Cooperativa de Trabalho ‘Alimentando’, Ignacio Vila, de Buenos Aires, na Argentina.
O debate com o público foi moderado por Claire Cerdan, pesquisadora do CIRAD – Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento. Nesse momento do seminário, os palestrantes tiraram dúvidas dos inscritos, que perguntaram sobre alguns gargalos como a falta de políticas públicas para ajudar no escoamento da produção das cooperativas. A logística de transporte, a condição da malha viária do país e o acesso à internet de qualidade na zona rural foram algumas das preocupações levantadas pelos participantes.
Durante a realização do seminário foram produzidos alguns mapas mentais para ajudar a fixar o conteúdo abordado nos dois dias de evento. Eles podem ser baixados no site https://alimentos.app.al.sebrae.com.br/.
