Com o mercado internacional cada vez mais dinâmico e influenciado por fatores como a pandemia, guerras e o avanço de novas tecnologias, é preciso discutir temas e futuros cenários que impactam a economia e a indústria alagoana. E para discutir estratégias internas diante das mudanças, necessidade de adaptação e apoio às indústrias e às micro e pequenas empresas locais, foi realizado, na tarde de segunda-feira (14), o evento Café com Estratégia.
A iniciativa contou com a participação de colaboradores e da Diretoria Executiva (Direx), além do professor, doutor, pesquisador e economista da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Feac) da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles, que abordou diversos temas durante o bate-papo.
Entre os temas discutidos pelo professor e a Direx estiveram o PIB de Alagoas, o mercado de trabalho no estado, inflação, pandemia e o avanço em setores como a pecuária leiteira, cadeia de distribuidores e a agricultura familiar.
“Vemos o avanço extraordinário da tecnologia presente em todos os detalhes da produção da pecuária leiteira aqui no estado. Passamos a ter a maior produtividade do Norte e Nordeste do país. A nossa produção está mais próxima da média argentina e uruguaia do que a da brasileira. É algo maravilhoso, mas, na parte da indústria, somos insuficientes. Temos uma capacidade de industrializar bem limitada”, destaca Cícero Péricles.
Ele também falou sobre a diversificação de culturas plantadas em pequenas propriedades no estado e ações como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que também ajudaram no plantio e venda de frutas e hortaliças.
“Hoje, encontramos uma diversidade bem maior de produtos do que há 10 ou 15 anos. A nossa agricultura familiar deve ser olhada com bastante carinho e atenção. Ela se revela com uma possibilidade muito grande, com frutas e hortaliças. Hoje, esse alimento chega à mesa do alagoano. Os números do Ideral [Instituto de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de Alagoas] são muito positivos. Vemos uma presença bastante animadora desse setor. Foram esses programas, além do arranjo institucional bem articulado com a presença do Sebrae, BNB e Conab que permitiram isso”, enfatiza.
O diretor de Administração e Finanças, Roberval Cabral, lembrou épocas nas quais o estado exportava alimentos como o feijão e o café, ressaltando que essa cultura ainda pode ser cultivada, levando emprego para as pessoas do campo.
“Se nós fizermos um trabalho voltado ao interior, com o foco na economia popular, na agricultura familiar, poderemos resgatar parte dessa cultura. Ela se perdeu, mas, certamente, podemos retomar isso com um trabalho mais focado, para que o homem do campo, com o apoio de tecnologias como a internet possa ajudar a desenvolver essas cadeias e assim contribuam com o desenvolvimento de sua própria terra”, ressalta.
Desafios
O professor e os diretores do Sebrae também discutiram os desafios e áreas em que a indústria e a economia local precisam avançar, bem como abordaram como as mudanças globais têm transformado o modo como as coisas são produzidas e os serviços são ofertados, fator que também transforma a economia alagoana.
Segundo o diretor técnico do Sebrae Alagoas, Vinícius Lages, além dessas mudanças no planeta, o estado conta com desafios adicionais, como o declínio expressivo da indústria sucroalcooleira e desafios de sua permanência e competitividade futura.
Lages ainda lembrou os impactos que a queda no setor de polímeros ligados à mineração de salgema deixou no estado e toda a cadeia de indústrias que representa cerca de 20% do PIB alagoano. Além de outras perdas significativas na quantidade de empresas ligadas à atividade industrial, como o setor têxtil e de confecções. Vinícius Lages também abordou o papel do Sebrae dentro desse contexto.
“O ‘Made in Alagoas’ precisa estar mais presente nas nossas prateleiras. E, enquanto agência de desenvolvimento, ficamos nos perguntando qual é o nosso papel tanto dentro de uma estratégia de reindustrialização, considerando outras avenidas de possibilidades como a bioeconomia, uma indústria ‘servitizada’ e que pudesse gerar oportunidades para os pequenos negócios. Temos o duplo desafio de superar as dificuldades dentro das limitações de competitividade e, ao mesmo tempo, superar a extrema condição de pobreza e desigualdade social que temos aqui”, ressalta ele.
O superintendente Marcos Vieira lembrou que outro grande desafio do estado e do país, diante de um mundo com muitas mudanças no modo de viver, na indústria e na tecnologia, é o de levar educação para os territórios.
“Aqui em Alagoas, mais de 40% da população é formada por analfabetos ou analfabetos funcionais, o que torna mais difícil o despertar dessas pessoas para os avanços tecnológicos, fator que também nos deixa incapazes de alcançar uma produção tecnológica avançada. Esse problema faz com que o estado fique a reboque do desenvolvimento de outros centros. Por isso é importante discutir estratégias para ajudar essa população desamparada”, conclui Marcos Vieira.