Muitas são as trajetórias de abdicação de várias coisas na vida de mulheres de sucesso para poder empreender, criar seus negócios, realizar sonhos e influenciar outras mulheres. Algumas delas compartilharam suas experiências no Seminário Elas Fazem História, realizado pelo Sebrae Alagoas, no último sábado (19), na sede em Maceió. O evento foi parte da programação do Sebrae durante o Mês de Mulher.
O seminário foi aberto com a palestra de Natália Leite, jornalista e empreendedora, Mestre em Ciências da Informação pela Universidade de Brasília (UnB), cofundadora da Sonata Brasil e da Escola de Você, primeira plataforma digital dedicada ao desenvolvimento de autoestima e liderança feminina no Brasil, impactando mais de 500 mil alunas.
A empreendedora iniciou o evento destacando que autoestima não é sobre aparência, é sobre saúde emocional e performance profissional. Segundo Natália, o mundo empresarial ainda é marcado por características como agressividade, insensibilidade, sede de poder e ‘resultado a qualquer custo’, mas isso vem mudando.
“A lógica em cima da qual os negócios estão estruturados é feita de um jeito masculino. Isso acaba levando as mulheres a um lugar desconfortável. Há uma retirada de mulheres do mercado por conta dessa lógica. Vem aí uma nova base para os negócios. Daqui a 10 anos todo mundo vai falar. Há uma necessidade de formalizar, compartilhar como é o jeito feminino de fazer negócios”, afirma.
De acordo com Natália Leite, o jeito feminino de gerar resultados e fazer negócios é cada vez mais requisitado e passa por qualidades como intuição, criatividade, empatia, abertura, escuta, harmonia, fluidez e compartilhamento, necessárias, sobretudo, em tempos de crise.
“As mulheres não querem ter resultado no negócio para comprar uma Ferrari ou ter um avião. Ela quer contratar outras mulheres, ajudar elas a comprarem um carro também. Esse é o jeito feminino. Isso não quer dizer que o jeito feminino é de mulher e o jeito masculino é de homem. A referência é o lado direito e esquerdo do cérebro. Qualquer ser humano pode utilizar essas qualidades. A questão é que nos negócios o jeito feminino não é devidamente valorizado”, pontua.
Elas fazem história em Alagoas
Duas dessas empreendedoras, que utilizam bem essas qualidades citadas por Natália em seus negócios, compartilharam suas histórias no seminário, mediadas por Milka Freitas, educadora em sexualidade, empreendedora de impacto socioambiental, psicóloga e produtora de conteúdo.
A primeira delas foi Rosiléa Viana, empresária e criadora da primeira Afroloja Colaborativa de Maceió, a Divinas Pretas (@divinaspretas.mcz). Sua marca oferta produtos de estética, moda e beleza para a mulher negra e nasceu a partir da atitude dela em deixar o emprego. Hoje, com o sucesso do negócio, que depois se tornou uma loja colaborativa, Rosiléa também empodera outras mulheres e dissemina a importância do afroempreendedorismo entre elas.
Rosiléa contou como foi o início de sua trajetória como empreendedora. “Eu era concursada e no início da pandemia fui convidada a morar em Curitiba ou Manaus. Dois lugares que não conhecia nada. Aí, decidi pedir demissão e fiz um acordo. Ano passado, abri minha primeira loja física. Foi uma decisão difícil de tomar porque eu era concursada, trabalhava em uma empresa de renome mundial, mas eu não era feliz, trabalhava em um ambiente extremamente machista”, pontua.
Na loja colaborativa, que conta com diversos acessórios, roupas e cosméticos, a empresária também contribuiu com sua autoestima e com o desenvolvimento de outras mulheres negras. “Isso fortalece o meu trabalho e o delas. Sou grata a Deus pelo que conquistei no antigo emprego, grata pelas experiências. Consegui uma casa, educar meus filhos, mas ainda não estava feliz como mulher”, revela.
Após passar por cursos como engenheira química, Rosiléa decidiu fazer o curso de estética e cosmetologia para abrir uma clínica de estética voltada ao público negro, vislumbrando os planos para o futuro. Ela celebra o fato de trazer consigo outras mulheres para o mundo do empreendedorismo.
“Eu poderia muito bem, com a indenização que recebi do antigo emprego, ter feito uma loja só para mim, mas eu não estaria feliz. Para mim, foi muito mais prazeroso trazer outras mulheres para perto de mim. Dessa forma, a gente se fortalece muito. Existe uma troca. Eu aprendo com elas e elas aprendem comigo. Uma fortalece a outra. Temos que ter perseverança e não desistir”, conclui.
Outra empresária e palestrante no seminário foi a Janaína Ramos, empresária da Panos de Cordel (@panos.decordel), página virtual no Instagram especializada em retratar a cultura nordestina em panos de prato, tapetes, jogos americanos e outras peças. Ela começou no mundo do empreendedorismo recentemente, em 2021.
Ex-gerente financeira em um dos principais hotéis de Maceió, gestora financeira há mais de 21 anos, ela resolveu deixar o emprego por conta da rotina pesada e para ficar mais perto de sua mãe, dona Inove Ramos, de 76 anos, que estava em depressão.
“Comecei a pintar pano de prato com a temática nordestina, porque eu queria fazer algo diferente. Aí pintava frases típicas nordestinas e passava para minha mãe fazer o acabamento. Assim, eu ocupava minha mãe, que sempre gostou de costurar. Fiz minha página no Instagram, com fotos legais em um espaço regional e, com pouco tempo, o público começou a gostar”, conta Janaína.
A demanda aumentava e a produção também. Além disso, o público pedia para que Janaína produzisse novas peças, outros produtos, e ela atendia, recebendo o apoio do Sebrae.
“Eu não tinha a visão de negócio, de empreendedorismo e me inscrevi em um curso on-line do Sebrae. Foi aí que enxerguei o meu potencial e o potencial dos meus produtos que traziam a cultura regional. Não sabia nada de marketing, de vendas, nada do mundo digital e tive bastante ajuda. Com dois meses de Instagram, pedi demissão do meu emprego”, enfatiza.
Janaína também falou sobre a importância de apoiar e ser apoiada por outras mulheres. “Dá medo? Dá. Mas a rede do empreendedorismo feminino em Alagoas é algo tão forte que as pessoas não têm noção da quantidade de gente que aparece no seu caminho para ajudar”, finaliza Janaína.
A analista da Unidade de Soluções e Inovação do Sebrae Alagoas, Érica Pereira, fez um balanço do que foi o evento, que também contou com atrações musicais para receber as mulheres, num espaço para massagens e espaço kids para crianças.
“Uma das ideias do seminário era justamente acolher essas mulheres, com um espaço bem aconchegante. Conseguimos alcançar essas mulheres, essas mães, e recebê-las aqui para obter mais conhecimento. O Sebrae, cada vez mais, volta o olhar para essas mulheres para que elas possam se capacitar e não percam as oportunidades com esses temas como liderança feminina e autoconhecimento”, conclui.